Ao longo do ano de 2020, e consequentemente, no decorrer desse ano, nos familiarizamos com as manifestações clínicas do Sars-CoV-2 e da Síndrome pós-Covid, aprendendo a reconhecer sintomas iniciais e as características de ação deste novo vírus que assolou a população mundial.
Avanços foram feitos pela ciência em relação a compreender os mecanismos de disseminação e tratamentos possíveis, bem como das medidas preventivas necessárias que têm sido tomadas sistematicamente.
Sabemos que é uma doença que tem causado grande índice de mortalidade, e que de certa forma é difícil fazer qualquer prognóstico no sentido de delimitar suas formas de ação. As pessoas contaminadas tanto podem desenvolver a forma mais aguda e letal quanto podem passar pelo ciclo viral de forma assintomática ou com sintomas leves a moderados.
Mas o que pode acorrer depois de um paciente ter passado pela infecção por Covid-19?
Primeiramente, é necessário esclarecermos alguns pontos importantes sobre o que tem sido chamado de Síndrome pós-Covid, que é o conjunto de sintomas ou sequelas que o vírus deixa no organismo humano após o período de infecção.
Um aspecto importante a ressaltar é que a intensidade das sequelas ainda estão sendo estudadas e variam de indivíduo para indivíduo, de acordo com a gravidade do processo.
Por exemplo, um paciente que tenha sido internado na unidade de terapia intensiva e por um período prolongado, tem maiores chances de apresentar sequelas mais graves ou persistentes da Síndrome pós-Covid do que as pessoas que tenham sido acometidos de forma mais branda.
Portanto, é pertinente a preocupação com a população de aproximadamente 11 milhões de pessoas que, à princípio, já está recuperada. Dizemos, à princípio, pois já existem estudos que apontam que até 80% dos pacientes recuperados apresentam pelo menos um sintoma persistente até quatro meses depois do final da infecção.
Com isso podemos afirmar, que além de ser um vírus que se transmite com grande velocidade e que ataca o organismo de maneira agressiva, ele também é responsável por um conjunto de sequelas de complexidades diferentes, que persistem e afetam a saúde geral do paciente, e que, portanto, merecem um olhar mais atento.
Como o nosso organismo reage e combate o Sars-CoV-2?
Síndrome pós-Covid.
Ao compreendermos os mecanismos que o nosso organismo utiliza para combater a Covid-19, fica mais fácil entendermos a origem das sequelas. Por este motivo traremos alguns esclarecimentos.
A forma que o nosso corpo encontra para combater o vírus é ativando o sistema imunológico, que desencadeia um processo inflamatório. Em parte das pessoas essa resposta imunológica pode ser muito intensa. É como que, se para combater a agressão do vírus, o organismo fizesse um contra-ataque potente, que envolve a liberação de substâncias como as citocinas que acabam por prejudicar e afetar, também, as partes saudáveis do corpo. O organismo combate à doença, mas também “ataca” partes saudáveis do corpo. A resposta imunológica, nos casos mais graves, é tão intensa que o organismo não consegue diferenciar o que precisa combater e o que não precisa.
Sintomas mais comuns da Síndrome pós-Covid
De uma forma ampla, podemos dizer que as principais manifestações mais comuns da Covid e da pós-Covid são:
• Fadiga;
• Falta de ar
• Dores de cabeça;
• Dores musculares;
• Queda de cabelo;
• Perda de paladar e olfato (temporária ou duradoura);
• Dor no peito;
• Tontura;
• Tromboses;
• Palpitações;
• Depressão e ansiedade;
• Dificuldades de linguagem, raciocínio e memória.
Esses são os sintomas mais relatados durante o período de infecção e podem se estender por mais alguns meses (Covid prolongada), outros surgem em decorrência de todo esse processo em que o organismo travou uma verdadeira batalha para combater o vírus. Podemos observar reflexos claros em algumas funções do organismo como a função pulmonar, muscular, circulatória entre outras.
As funções pulmonares têm sido as mais afetadas, ocasionando lesões (fibroses) que ficam no organismo como um tipo de cicatriz, o que ocasiona dificuldades respiratórias. Disso decorre a sensação de falta de ar persistente, e o cansaço que se manifesta na realização das atividades mais simples do dia a dia como escovar os dentes, ou preparar um café, por exemplo.
Sobre a fadiga na Síndrome pós-Covid
Já a fadiga, que pode ser uma manifestação de sequelas das funções musculares, é ocasionada quando durante a resposta imunológica ao vírus, o organismo libera as citocinas, que atacam os músculos gerando muitas dores e a sensação de fraqueza.
Ainda sobre a fadiga, há sequelas mais graves para os pacientes que ficaram muito tempo internados nas unidades de tratamento intensivo, o que ocasiona perda de peso além de massa muscular. Essa perda traz reflexos no aparelho circulatório, que pode potencializar a fadiga e aumenta os riscos de trombose.
Em relação a circulação, os vasos sanguíneos também são afetados pela chamada tempestade inflamatória causada pelo corpo para combater o vírus. Os riscos de obstruções nos vasos sanguíneos e formação de coágulos aumentam, e em alguns casos a terapia com medicamentos anticoagulantes é necessária.
Os outros sintomas, que a princípio, podem parecer mais leves do que os descritos acima, também afetam a qualidade de vida dos indivíduos, e sem a devida atenção podem passar despercebido e com o tempo ir se agravando. Por este motivo é importante atenção total ao processo de recuperação pós- Covid.
O Sars-CoV-2 age de forma quase imprevisível e ainda é uma tarefa muito complexa fazer um prognóstico de como ele irá se manifestar, pois cada organismo reage de uma forma e tem respostas imunológicas diferentes. E este parece ser um dos maiores desafios que enfrentamos, pois não lidamos apenas com a infecção viral, lidamos também com nossos mecanismos de defesa que podem nos autossabotar no processo de recuperação.
O que fazer e como agir em relação à Síndrome pós-Covid?
Nesse período é necessário muita prudência e vigilância. Algumas vezes as sequelas são mais aparentes e isso facilita o diagnóstico e o estabelecimento de um plano de tratamento, já que pelo incômodo, os pacientes, geralmente, procuram atendimento médico.
Mas quando os sintomas são sutis, e passam despercebido, há o risco do paciente ao retomar o ritmo normal da vida, se deparar com situações em que o mal-estar aparece subitamente e isso se aplica principalmente as funções pulmonares e cardiovasculares.
Sintomas como palpitações, desmaios, náuseas e tonturas podem indicar que os pulmões não estão funcionando de forma satisfatória. Portanto, é recomendado manter um acompanhamento médico periódico para monitorar possíveis sequelas da Síndrome pós-Covid que venham a se manifestar a longo prazo.
Sugerimos também uma atenção especial aos sintomas de ansiedade e depressão, para a melhor preservação da saúde mental, que tem se apresentado bastante abalada em decorrência de todos os processos e mudanças bruscas que as nossas rotinas sofreram ao longo desse período.
A saúde mental é parte imprescindível para a manutenção da saúde integral do paciente e essa é uma das nossas maiores preocupações enquanto profissionais da área médica: manter o equilíbrio dos nossos pacientes de uma forma ampla e mais abrangente possível.