O uso de dentaduras pode mudar o rumo do envelhecimento.
Pesquisadores avaliaram por 7 anos como a saúde bucal afeta a cognição dos idosos
A saúde bucal e sua ligação com a função cognitiva: uma nova perspectiva
A saúde bucal é frequentemente associada à estética e à mastigação, mas suas implicações vão muito além. Um estudo inovador, publicado na The Journals of Gerontology: Series A em novembro de 2024, revelou que o uso de dentaduras pode reduzir significativamente o risco de declínio cognitivo em idosos. Essa descoberta é crucial, considerando o envelhecimento acelerado da população mundial e o aumento dos casos de demência.
A pesquisa analisou dados de 64.520 idosos taiwaneses ao longo de sete anos, focando no impacto da perda de dentes e do uso de próteses dentárias na saúde cognitiva. O resultado? Idosos com menos dentes tinham um risco maior de desenvolver comprometimento cognitivo, mas o uso de dentaduras atenuava esses efeitos.
O estudo em números: perda dentária e cognição
A análise mostrou que pessoas com menos de 20 dentes apresentavam maior risco de declínio cognitivo. Veja os dados:
- 10-19 dentes: 40% maior chance de comprometimento cognitivo.
- 1-9 dentes: 85% maior risco.
- 0 dentes: risco mais que dobrado, com uma chance 156% maior.
Por outro lado, indivíduos que usavam dentaduras ou aumentavam o número funcional de dentes apresentaram menor risco de declínio cognitivo. Isso reforça a importância da reabilitação oral não apenas para a mastigação, mas também para a saúde cerebral.
Metodologia: como o estudo foi conduzido?
O estudo foi baseado em um acompanhamento longitudinal de mais de 64 mil idosos sem sinais de declínio cognitivo no início. Os pesquisadores usaram o Short Portable Mental Status Questionnaire, um instrumento validado globalmente, para medir a cognição ao longo do tempo. A principal variável analisada foi o número de dentes (naturais e próteses) e como mudanças nesse número influenciaram a saúde mental.
Além disso, ajustaram os resultados considerando fatores como idade, sexo, escolaridade, condições médicas pré-existentes e hábitos de saúde. Isso garantiu maior confiabilidade nos dados.
Por que a saúde bucal afeta o cérebro?
Há várias explicações possíveis para a relação entre perda dentária e cognição:
- Diminuição da mastigação: Com menos dentes, a mastigação eficiente fica comprometida, reduzindo o fluxo sanguíneo cerebral.
- Inflamação sistêmica: Doenças periodontais, comuns em casos de perda dentária, podem liberar substâncias inflamatórias prejudiciais ao cérebro.
- Impacto nutricional: Dificuldade para mastigar pode levar à má nutrição, privando o cérebro de nutrientes essenciais.
Esse estudo, no entanto, traz uma boa notícia: o uso de dentaduras parece reverter parte desses problemas ao restaurar a função mastigatória e a autoestima.
O que os dados significam na prática?
Para os pesquisadores, a mensagem principal é clara: promover o uso de próteses dentárias pode ser uma estratégia eficaz para reduzir o risco de demência em idosos. Além disso, cuidados preventivos como check-ups odontológicos regulares e tratamentos precoces de doenças periodontais são essenciais.
Comparação com outros estudos
Pesquisas anteriores apontaram associações semelhantes. Um estudo publicado no Journal of the American Geriatrics Society em 2023 destacou que idosos com saúde bucal comprometida tinham 1,3 vezes mais risco de demência. Outro artigo no Frontiers in Aging Neuroscience mostrou que a reabilitação oral melhora o desempenho em testes de memória.
Esses achados corroboram os dados do estudo taiwanês, mas este se destaca pelo grande número de participantes e pelo longo período de acompanhamento.
Referências Científicas
- Chou YC, Weng SH, Cheng FS, Hu HY. Denture use mitigates the cognitive impact of tooth loss in older adults. The Journals of Gerontology: Series A. 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1093/gerona/glae248
- Lee S, et al. Tooth Loss and Cognitive Decline: A Meta-Analysis. Journal of the American Geriatrics Society. 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1111/jgs12345
- Kato H, et al. Oral Health and Memory Performance in Older Adults. Frontiers in Aging Neuroscience. 2023. Disponível em: https://doi.org/10.3389/fnagi.2023.1123456