Você sabia que algumas pacientes com câncer de mama não precisam de cirurgia imediata?
Resultados da Observação e Espera como uma Opção de Tratamento : As Operações Podem Estar Com os Dias Contados!
Introdução
O câncer de mama é uma das doenças mais comuns entre as mulheres em todo o mundo. Nas últimas décadas, os avanços na medicina têm proporcionado mudanças significativas nos protocolos de tratamento, aumentando as taxas de sobrevivência e melhorando a qualidade de vida das pacientes.
Evolução dos Tratamentos: Uma Visão Geral
Historicamente, o tratamento do câncer de mama envolvia procedimentos invasivos, como mastectomias radicais, seguidos de quimioterapia e radioterapia. Com o avanço da pesquisa científica, a compreensão de que o câncer de mama não é uma doença única, mas um conjunto de subtipos com comportamentos distintos, permitiu o desenvolvimento de terapias mais direcionadas e menos agressivas.
Subtipos de Câncer de Mama e Tratamentos Personalizados
Atualmente, o câncer de mama é classificado em pelo menos três categorias principais:
- Hormônio Positivo (Receptores Hormonais Positivos): Tumores que expressam receptores de estrogênio e/ou progesterona. O tratamento geralmente inclui hormonioterapia para bloquear esses hormônios e impedir o crescimento tumoral.
- HER2 Positivo: Caracterizado pela superexpressão da proteína HER2. Terapias-alvo, como trastuzumabe e pertuzumabe, são utilizadas para bloquear essa proteína e controlar o crescimento do tumor.
- Triplo Negativo: Não expressa receptores hormonais nem HER2, sendo mais agressivo e com menos opções de tratamento. Recentemente, a imunoterapia tem mostrado resultados promissores nesse subtipo.
Avanços Recentes no Tratamento do Câncer de Mama
- Terapia-Alvo e Medicina de PrecisãoA terapia-alvo utiliza medicamentos que atacam especificamente as células cancerígenas, preservando as células saudáveis. Essa abordagem reduz os efeitos colaterais e aumenta a eficácia do tratamento. Por exemplo, o uso de trastuzumabe em tumores HER2 positivos revolucionou o tratamento, melhorando significativamente as taxas de sobrevivência. Metrópoles
- ImunoterapiaA imunoterapia estimula o sistema imunológico a reconhecer e combater as células cancerígenas. Estudos recentes demonstraram que a imunoterapia é eficaz em casos de câncer de mama triplo negativo, um subtipo anteriormente difícil de tratar. Metrópoles
- Redução do Uso de QuimioterapiaCom a identificação precisa dos subtipos tumorais, nem todas as pacientes necessitam de quimioterapia. Em casos de tumores detectados precocemente e com características menos agressivas, tratamentos menos invasivos, como a hormonioterapia, têm sido suficientes, evitando os efeitos colaterais da quimioterapia. Metrópoles
- Radioterapia AvançadaTécnicas modernas de radioterapia, como a terapia de arco modulada por intensidade (VMAT), permitem a entrega precisa de radiação ao tumor, minimizando a exposição de tecidos saudáveis e reduzindo os efeitos colaterais. Arxiv
- Vacinas TerapêuticasPesquisas estão em andamento para desenvolver vacinas que tratem o câncer de mama. A tecnologia de mRNA, utilizada nas vacinas contra a COVID-19, está sendo adaptada para criar vacinas que ensinem o sistema imunológico a atacar células tumorais específicas. A BioNTech, por exemplo, espera lançar uma vacina terapêutica contra o câncer de pele em 2025, com potencial aplicação futura em câncer de mama. Metrópoles
Estudo de Caso: Observação e Espera como um Não-Tratamento do Carcinoma Ductal In Situ
Um estudo recente publicado na revista JAMA, conduzido por pesquisadores da Universidade Duke, propôs que não fosse realiado o tratamento em pacientes com carcinoma ductal in situ (CDIS), um tipo de câncer de mama de crescimento lento. Ao acompanhar 673 pacientes, os pesquisadores observaram que a abordagem de “observar e esperar” não aumentou o risco de progressão para câncer invasivo em comparação com o tratamento padrão, que inclui cirurgia e radioterapia. Essa descoberta sugere que, em casos selecionados, evitar tratamentos invasivos pode ser uma opção viável, preservando a qualidade de vida das pacientes.
A pesquisa trata sobre o manejo ativo do carcinoma ductal in situ (DCIS) de baixo risco, com ou sem terapia endócrina, trazendo mudanças importantes na abordagem do câncer de mama em estágios iniciais.
Resumo do Estudo: O Que Ele Revela?
O estudo COMET (Comparison of Operative to Monitoring and Endocrine Therapy) é um marco nos esforços para reduzir tratamentos excessivos em pacientes diagnosticadas com carcinoma ductal in situ (DCIS) de baixo risco. Em vez de tratar cirurgicamente todos os casos de DCIS, os pesquisadores investigaram se um manejo ativo — com monitoramento cuidadoso e, quando necessário, terapia endócrina — seria suficiente para pacientes selecionadas.
Contexto e Objetivo do Estudo
O carcinoma ductal in situ (DCIS) é frequentemente detectado em mamografias de rastreamento e, apesar de não ser um câncer invasivo, historicamente tem sido tratado com cirurgia (mastectomia ou lumpectomia) e, em alguns casos, radioterapia. Esse tipo de abordagem agressiva tem sido questionado, especialmente para mulheres com DCIS de baixo risco. Assim, o objetivo principal do estudo COMET foi avaliar se o manejo ativo oferece os mesmos benefícios que a intervenção cirúrgica imediata, reduzindo, ao mesmo tempo, os efeitos colaterais e melhorando a qualidade de vida das pacientes.
Métodos do Estudo
O estudo foi um ensaio clínico randomizado envolvendo mulheres com DCIS de baixo risco diagnosticado por mamografia. Os participantes foram divididos em dois grupos principais:
- Manejo Ativo: As pacientes foram monitoradas regularmente com exames clínicos e mamografias, sem intervenção cirúrgica imediata. Algumas receberam terapia endócrina para reduzir o risco de progressão.
- Tratamento Padrão: Este grupo foi submetido à cirurgia (lumpectomia ou mastectomia), com ou sem radioterapia, conforme os protocolos tradicionais.
Os pesquisadores avaliaram os resultados em relação à progressão para câncer invasivo, qualidade de vida e efeitos colaterais.
Resultados e Implicações
- Progressão para Câncer Invasivo:
- O estudo encontrou uma taxa de progressão ligeiramente maior no grupo de manejo ativo, mas a diferença não foi significativa o suficiente para justificar tratamentos agressivos em todos os casos de DCIS de baixo risco.
- Qualidade de Vida:
- As mulheres no grupo de manejo ativo relataram uma qualidade de vida superior em comparação ao grupo que passou por cirurgia, especialmente em relação à ansiedade, imagem corporal e efeitos colaterais.
- Efeitos Colaterais:
- A terapia endócrina, usada em alguns casos do grupo de manejo ativo, foi bem tolerada pela maioria das pacientes, mas apresentou alguns efeitos colaterais leves a moderados, como ondas de calor e fadiga.
- Conclusões:
- O manejo ativo é uma opção viável e segura para mulheres com DCIS de baixo risco, evitando intervenções desnecessárias sem comprometer os resultados oncológicos. Esse modelo de cuidado pode transformar a maneira como o DCIS é tratado globalmente.
Discussão e Comparações com Outros Estudos
O estudo COMET reforça tendências observadas em pesquisas anteriores, como o estudo “LORIS” no Reino Unido, que também avalia o manejo ativo em casos de DCIS. Ambos os estudos indicam que uma abordagem menos invasiva pode ser suficiente para muitas mulheres com DCIS, especialmente em um cenário onde o sobrediagnóstico é uma preocupação crescente.
Além disso, o estudo destaca a importância de personalizar os cuidados médicos, considerando não apenas os riscos oncológicos, mas também o impacto emocional e físico do tratamento nas pacientes.
Perspectivas Futuras
O estudo COMET pode ser um divisor de águas na oncologia mamária, encorajando médicos e pacientes a reconsiderarem a necessidade de intervenções imediatas para todas as mulheres diagnosticadas com DCIS. No futuro, podemos ver um aumento na adoção do manejo ativo, bem como mais pesquisas para identificar quais pacientes são as melhores candidatas para essa abordagem.
Referências
- Francis A, Thomas J, Fallowfield L, et al. “Active Monitoring With or Without Endocrine Therapy for Low-Risk Ductal Carcinoma In Situ: The COMET Randomized Clinical Trial.” JAMA Oncology. 2023. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jamaoncology/fullarticle/2828218