Com a adesão de líderes da indústria da tecnologia, substâncias como cetamina e outros psicodélicos surgem como estratégias de combate de problemas de saúde mental como depressão e queda de produtividade.
As fronteiras da inovação constantemente se expandem. No campo da saúde mental, essa expansão tem levado a considerações de métodos anteriormente rejeitados. Líderes do setor tecnológico têm defendido o uso de substâncias psicodélicas, incluindo a cetamina, para lidar com condições de saúde mental. Esta tendência, apesar de polêmica, parece representar uma mudança radical na luta contra a depressão e problemas de saúde mental no ambiente corporativo. Conforme relatado pelo Independent, Elon Musk, fundador da SpaceX e da Tesla, está entre aqueles que supostamente recorrem à cetamina para lidar com a depressão. Musk, inclusive, confirmou via Twitter ser a favor do uso da substância.
O aumento do uso dessas substâncias é notável, não só entre os inovadores de Silicon Valley, mas também em uma escala mais ampla. A cetamina parece ser um potencial tratamento eficaz para pessoas com depressão resistente ao uso de medicamentos convencionais. Pioneiros do Vale do Silício recentemente declararam-se favoráveis ao uso de psicodélicos para melhorar sua saúde mental. Conforme relatado pela Sputnik News Brasil, o cofundador do Google também incorporou substâncias psicodélicas, como cogumelos alucinógenos, à sua rotina. No entanto, esta tendência levanta questões éticas e médicas, especialmente quando existe um aumento das vendas ilegais de cetamina nos EUA, conforme noticiado pela CNN Brasil.
Mas quais são as opções atuais para o tratamento da depressão e como elas se comparam à cetamina e a outros psicodélicos?
Os antidepressivos, particularmente os inibidores seletivos de reabsorção da serotonina (ISRS) e os antidepressivos tricíclicos (ADTs), têm sido a pedra angular do tratamento da depressão. Eles funcionam aumentando a disponibilidade de certos neurotransmissores no cérebro, como a serotonina, que ajuda a regular o humor. No entanto, esses medicamentos podem ter efeitos colaterais significativos e nem sempre são eficazes. Acredita-se que cerca de 30% dos pacientes com depressão são resistentes a esses tratamentos.
Em comparação, a cetamina age de maneira diferente. Ela bloqueia o receptor NMDA no cérebro, que está envolvido na sinalização do glutamato, um neurotransmissor importante para a aprendizagem e a memória. Isso parece ajudar a reverter as alterações cerebrais associadas à depressão e pode proporcionar alívio rápido dos sintomas. Além disso, as microdoses de psicodélicos, como o LSD ou os psilocibinos (o composto ativo dos “cogumelos mágicos”), parecem promover a “plasticidade” do cérebro, permitindo novas conexões e padrões de pensamento.
As empresas também estão explorando o uso de psicodélicos no ambiente de trabalho para melhorar a saúde mental dos funcionários, como apontado pela Época Negócios. Algumas empresas estão explorando a ideia de “psicodélicos no trabalho” para melhorar a saúde mental dos funcionários. Contudo, esse caminho exige cautela e regulamentações claras para garantir a segurança e o bem-estar de todos os envolvidos. Embora promissoras, essas substâncias têm o potencial de serem mal utilizadas e ainda não estão regulamentadas para uso terapêutico em muitos países. Além disso, cada indivíduo é único e pode responder diferentemente a esses tratamentos.
Essa tendência levanta uma série de questões, desde éticas a médicas. Se por um lado a crescente aceitação dessas substâncias como potenciais ferramentas terapêuticas mostra o quão desesperadamente precisamos de novas abordagens no combate a condições de saúde mental; por outro lado observados que as opções de tratamento existentes atualmente no mercado possuem uma taxa alta de efeitos colaterais e eficácia limitada.
A adoção de substâncias psicodélicas como forma de tratamento para problemas de saúde mental é um tópico emergente, que necessita de pesquisas sérias, além de um debate amplo, responsável e maduro. Por exemplo, em 2020, a cidade de Oregon, EUA, votou pela legalização do uso terapêutico de psilocibina. Em termos de eficácia, um estudo de 2020 publicado na JAMA Psychiatry encontrou que a cetamina intranasal (Esketamine) mostrou melhora significativa em pessoas com depressão resistente ao tratamento.
Em suma, estamos explorando novos horizontes no tratamento da depressão e de outras condições de saúde mental. Enquanto cetamina e psicodélicos possuem potencial, eles também vêm com uma série de desafios que precisam ser cuidadosamente abordados. Devemos avançar com pesquisas rigorosas e discussões informadas para garantir que possamos utilizar todas as ferramentas disponíveis de maneira segura e eficaz, para o benefício da humanidade.